As últimas 48 horas anteriores às urnas serão marcadas por estratégias distintas dos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Enquanto o capitão reformado do Exército tenta segurar o ânimo dos apoiadores na tentativa de evitar algum deslize que comprometa a eleição, o ex-prefeito de São Paulo busca inflamar a militância para uma virada vista como missão quase impossível até entre os próprios petistas.
“É a primeira vez, em sete campanhas, que o PT, finalmente, encontra uma militância à altura na reta final”, afirmou o cientista político Leonardo Barreto, numa referência aos correligionários dos dois candidatos. A diferença é que, como favorito, Bolsonaro adotou um discurso cauteloso para os apoiadores. “Não aceite provocações. Se tiver problema, saia. Mude de lugar. As eleições estão praticamente decididas. Não precisamos entrar na pilha deles”, disse o deputado federal, ontem, durante entrevista.
A frase de Bolsonaro mostra o quanto está confiante na vitória. O que está em jogo para alguns integrantes da campanha é o tamanho da diferença para Haddad. “Ele é favorito, mas a quantidade de votos define muita coisa nos primeiros passos no governo, como a própria relação com o Congresso”, afirmou Barreto, que, mesmo considerando um fôlego final do PT por causa de tropeços — como a ausência nos debates —, vê com ceticismo uma virada pró-Haddad.
O petista, por sua vez, deve manter os eventos de rua na tentativa de estimular os apoiadores, principalmente depois da queda na rejeição e da diminuição na distância dos votos válidos apresentada na pesquisa Datafolha de ontem (Veja matéria abaixo). “A militância do PT está entusiasmada, isso é o que importa na reta final”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE), que ontem participou de ato do ex-prefeito na capital pernambucana.
Discursos
De acordo o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leonardo Avritzer, para tentar diminuir mais a diferença de votos, o petista deve assumir dois discursos de frente na reta final. “De um lado, ele deve continuar a defesa da democracia e da liberdade, o que pode contar com reforços, como a volta de Ciro Gomes ao Brasil. Por outro lado, ele deve tentar angariar os votos de pessoas de crenças religiosas porque isso se mostrou um ponto forte da disputa”, diz.
Os eventos públicos de Haddad só começaram a ocorrer nesta última semana, o que fez do ex-prefeito alvo dos próprios petistas, incomodados com o imobilismo do candidato em São Paulo. Os assessores mostraram irritação por causa da estratégia escolhida. “Ele se fechou com um núcleo pequeno de aliados, sem experiência numa campanha presidencial”, disse um deles. Um dos motivos de preocupação está nas fake news nas últimas 48 horas, um período que não é possível mais contar com a reação da Justiça ou mesmo os programas de rádio e televisão, que acabam oficialmente hoje.
Tanto o PT quanto Bolsonaro se dizem preocupados com as notícias falsas. “É um período que não se pode errar, não há mais chance para tropeços”, afirmou Antonio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Indecisos
O que também inspira cuidado nas campanhas é o número de eleitores indecisos e a volatilidade dos votos, que podem ser decisivos para o resultado final da disputa presidencial. As pesquisas de intenção de votos nem sempre conseguem prever movimentos de última hora. No primeiro turno, pesquisas Ibope e Datafolha realizadas na véspera do dia de votação não conseguiram antecipar mudanças importantes nas disputas pelo governo de alguns estados.
Os números das últimas pesquisas — como a liderança de Haddad em São Paulo, por exemplo —, segundo Geraldo Tadeu, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), podem apontar um desgaste de Bolsonaro. O movimento, porém, precisaria chegar a outros colégios eleitorais para dar qualquer esperança ao petista. “A possibilidade de virada existe, mas isso precisaria virar uma onda e se espalhar para outros lugares para modificar o resultado final”, comenta o professor.
Com o último dia de campanha eleitoral gratuita no rádio e na televisão, especialistas acreditam que os presidenciáveis devem intensificar o discurso, mas manter os padrões anteriores. Segundo o cientista político Geraldo Tadeu, o horário eleitoral deve ser composto por algumas propostas e críticas intensas entre os adversários. “A primeira parte do horário eleitoral deve ser de reforço de propostas apresentadas. E a segunda parte será usada para desconstruir o opositor. No contexto atual, não basta angariar votos, é preciso tirar votos do adversário. É um jogo de soma zero, para você crescer, tem que conseguir tirar do outro, por isso, as campanhas não devem abrir mão das críticas”, diz.
Volatilidade
Em Minas Gerais, por exemplo, dados do levantamento não conseguiram prever a virada do candidato Romeu Zema, do partido Novo, que alcançou 42,73% dos votos válidos, deixando para trás o atual governador Fernando Pimentel (PT) e abrindo boa vantagem contra Antonio Anastasia (PSDB). “Muita coisa é possível nessas 48 horas porque o eleitor está muito volátil. As mudanças podem acontecer principalmente com a força das redes sociais. E, para que isso se concretize, é preciso reforçar propostas e associar o nome dos candidatos a lideranças importantes, que atraiam votos”, explica o professor Leonardo Avritzer, da UFMG.
(Fonte: Camila Venosa, especial para o Estado de Minas e Leonardo Cavalcanti – Estado de Minas)