Por David Ribeiro Jr.
TEÓFILO OTONI
Na semana passada alguém teve a brilhante ideia de ir até o Portal Transparência para verificar o acerto financeiro de alguns funcionários de confiança da atual administração municipal, cujo mandato se encerra no dia 31 de dezembro. Antes que alguém pense o contrário, quando eu digo que foi uma brilhante ideia, falo sério. Não há aqui nenhuma ironia no que escrevo. Eu realmente acredito que, se o sujeito é servidor público, ou seja, se trabalha para o povo, tem que dar satisfação ao povo do que faz e do quanto ganha para fazer o que faz. Quem tomou a iniciativa de divulgar aqueles contracheques tem o meu aplauso. Tudo bem que a informação é pública e já está lá no Portal Transparência à disposição de quem quiser acessá-la, mas a ideia foi boa, afinal, nem todo mundo tem a curiosidade de ir verificar esses números por si mesmo, e nem todo mundo tem tempo também; e entre os contracheques divulgados consta acertos financeiros de até quase R$ 90 mil, o que causou, com alguma razão, enorme indignação em parte da comunidade local.
Tendo dito isto, permita-me agora dizer o que mais me causou estranheza no episódio da divulgação dos contracheques: a informação circulou em vários grupos de whatsapp, além de outras redes sociais, como se fosse um “vazamento”, o que, convenhamos, é uma grande bobagem, pra não dizer mentira. Vazamento seria se a informação fosse sigilosa e alguém furasse os bloqueios institucionais e colocasse o caso na rua. Isso não aconteceu. O que ocorreu foi que alguém foi até o Portal Transparência e imprimiu os contracheques — que são públicos, diga-se de passagem — e depois fotografou-os para divulgar. Quem tomou a iniciativa sequer printou os contracheques. Imprimiu mesmo, fotografou e depois divulgou. Há algo de errado nisso? Não, não há. Mas também não podemos chamar a situação de vazamento apenas para dar ares de escândalo porque vazamento, convenhamos, não foi.
Outra situação que me chamou a atenção foram os termos usados por algumas pessoas que compartilharam a informação e as imagens dos contracheques: “absurdo”, “bandidagem”, “salários exorbitantes”, “roubo”, “assalto aos cofres públicos” e algumas outras palavras impublicáveis.
É claro que todo mundo tem o direito de estar indignado… é óbvio que tem! Mas dizer que aqueles contracheques estão expondo algo errado, a sujeira da Prefeitura, a roubalheira da Administração e outros termos ainda piores, é simplesmente uma desinformação… quer dizer, prefiro acreditar que seja desinformação, embora, cá com os meus botões, eu ainda acho que se tratou mesmo, pelo menos da parte da grande maioria das pessoas, de hipocrisia e picaretagem. E sabe por que penso isso? Porque algumas das pessoas que mais criticaram os contracheques pretendem assumir os mesmos cargos na Prefeitura a partir de 1º de janeiro, com os mesmos salários ou, muito provavelmente, reajustados, e com os mesmos benefícios; e duvido que abrirão mão de um único centavo dos seus salários. Duvido mesmo!
Eu insisto em dizer que concordo com o cidadão comum que está indignado com aqueles salários e com aqueles contracheques, ainda mais tendo em vista estarmos num momento em que tanto se fala de crise e de falta de recursos. Mas, convenhamos, crucificar as pessoas que trabalham por receberem os seus salários, e os respectivos acertos finais, previstos em lei municipal, aí já é querer demais. Aí é incoerência e falta de bom senso.
Uma das pessoas mais verdadeiras que vi discutindo esse tema foi um rapaz que, num determinado grupo de whatsapp, pediu aos colegas para pararem de criticar “essa bobagem”; e ele justificou o seu pleito: “afinal, a partir de 1º de janeiro será a nossa vez”. E não parou por aí. Ele disse que se aquele assunto não se esgotasse logo, o povo ia propor que se reduzisse os salários, e aí quem entrasse a partir de 1º de janeiro é que ia ficar no prejuízo… Detalhe: a pessoa escreveu isso com todas as letras, sem mea-culpa, apenas analisando a situação de forma nua e crua. Teve pelo menos a coragem de admitir que está doido para chegar a sua vez. Alguns outros o fizeram pensando a mesma coisa, mas se travestindo de paladinos do interesse público. Quanta hipocrisia!
Alguns que estão na fila para substituírem os titulares desses mesmos contracheques ficaram posando de bons moços, de indignados e coisa e tal, mas a verdade é que só usaram a situação (que pretendem que seja a sua situação a partir de janeiro) para colocar o povo contra os atuais detentores desses cargos na Prefeitura. O nome disso é politicagem. Isso é coisa de gentinha; é coisa de gente hipócrita e picareta.
Mas, acredite, a pequenez da situação ainda não acabou. Alguns dos que mais criticaram a situação foram candidatos derrotados ao cargo de vereador nas últimas eleições. Alguns culparam até a imprensa, como se nós da imprensa é que pagássemos de forma direta ou indireta o salário dessa turma endinheirada. O que esses candidatos derrotados parecem desconhecer é que o salário dos servidores é votado pela Câmara Municipal. Então, quem aprovou esses salários foi a Legislatura 2009-2012, da mesma forma que a atual legislatura aprovará os salários para a Administração 2017-2020. Houve até quem dissesse que a imprensa está cheia de canalhas coniventes com essa roubalheira.
Quê? Como? O que a imprensa tem a ver com isso?
O que esses idiotas sabem muito bem, mas fingem não saber para aparecerem, é que a imprensa não é conivente com nada. E mais: o salário desses caras também não se trata de uma roubalheira, por mais imoral que seja. Trata-se, isso sim, de vencimentos previstos em lei, e na época que a lei foi votada, toda a imprensa divulgou o fato antes, durante e depois da votação. Que os valores são absurdos… bem, quando se considera o momento atual, de crise, sim, são absurdos, mas ilegais, não. E por que essa indignação não ocorreu quando os salários foram votados?
E aí eu fico pensando: se esses candidatos derrotados a vereador tivessem sido eleitos, será que abririam mão do seu próprio salário, já que um vereador, quando somados o seu salário, a verba de gabinete e a verba de assessoria, custa muito mais para o município do que os caras daqueles contracheques que foram divulgados?…
Será que esses candidatos derrotados ao cargo de vereador, e que hoje se mostram indignados, manteriam a sua posição de indignação se tivessem sido eleitos?… Se algum deles, por mais incompetente que seja, fosse convidado pelo prefeito eleito Daniel Sucupira para assumir um desses cargos… será que abriria mão do salário ou pediria para reduzir os seus vencimentos?…
E uma última situação a ser levada em conta é que secretário municipal, apenas a título de exemplo, é uma função que requer um profissional altamente qualificado. E levando isso em consideração, pergunto: será que se conseguiria bons nomes para assumir as secretarias se o salário fosse menor do que o atual? Eu duvido.
Alguém pode me perguntar: “David, você acha tudo isso normal?”
Não. Não acho.
“Você não acha que o Ministério Público deveria intervir?”
Não. Também não acho. Mas explico o meu raciocínio: Numa democracia os poderes têm que ter independência. Se o salário não é ilegal, e o Ministério Público já tem acesso a essas informações, intervir por quê? Alegando o quê? O que pode ser feito, isso sim, é cada um de nós, enquanto cidadãos, pressionar os nossos vereadores na hora de votar os vencimentos da próxima administração e da próxima legislatura. Quem sabe consigamos reduzir esses números! Não precisa nem de Ministério Público pra isso. O que precisamos é de mais mobilização social e menos oba-oba em redes sociais.
Outra coisa importante de se dizer: alguns daqueles contracheques estavam inflados apenas porque os seus titulares trabalharam quatro anos, não tiraram férias, e agora têm que receber o acerto total. Nada mais justo! Depois das baixarias que eu vi nas redes sociais envolvendo aqueles contracheques fiquei pensando se as pessoas que estavam fazendo todo aquele estardalhaço o faziam por indignação real… se por inveja… ou pequenez, já que realmente acreditam que todo mundo tem que ganhar salário mínimo?
Dia desses o prefeito eleito, Daniel Sucupira, disse que é preciso enxugar a máquina pública, já que, segundo ele, a Prefeitura teria mais de quatro mil funcionários. Como eu não sou um profundo conhecedor da estrutura administrativa da Prefeitura, não sei o que precisa ser feito para diminuir esse número tão grande, mas que tem que diminuir, tem. E tem que começar diminuindo o número de secretarias imediatamente. Penso que Teófilo Otoni tem secretarias demais para serviço de menos. Se for preciso, pague até um pouco melhor ao secretariado e se exija mais dos titulares de cada pasta. Eu penso que uma cidade do porte, e na condição financeira de Teófilo Otoni, não precisa mais do que 06 (seis) secretarias. No máximo 07 (sete). Mas isso já é assunto para um outro editorial.
Quem viver, verá!