— Por David Ribeiro Jr. —
Nas últimas semanas uma pergunta tem sido feita pelos mineiros que acompanham a política do nosso Estado: “Qual será o futuro político do senador Aécio Neves”?
Na última quinta-feira (02/08) essa pergunta foi enfim respondida. O senador, em carta aos mineiros, confirmou que será mesmo candidato a deputado federal.
Eu fiquei simplesmente impressionado de ver como a carta de Aécio causou um verdadeiro frisson nas redes sociais, principalmente nos perfis de pessoas ligadas a partidos de esquerda. Não faltaram expressões chulas como “Aécio arregou”, “Aécio correu do pau”, além de tantas outras bobagens que faziam parecer que Aécio tinha medo de concorrer com Dilma, que também é pré-candidata ao Senado. Daqui a pouco desconstruirei esse raciocínio.
Um ditado antigo nos ensina que “discutir com esquerdista é como jogar xadrez com um pombo. Ele vai derrubar as peças, defecar no tabuleiro e ainda sair de peito estufado como se tivesse ganhado o jogo”.
É só um ditado, gente. Ninguém precisa concordar. Se bem que…
Brincadeiras à parte, por que estou dizendo isso? Simples. Porque qualquer pessoa de bom senso, indiferentemente de opção política — se de direita ou esquerda —, percebe que o gesto de Aécio, mais do que inteligência, demonstra grandeza. Isso mesmo: Inteligência e grandeza.
Agora permita-me explicar o porquê do meu raciocínio. O gesto de Aécio demonstrou INTELIGÊNCIA, sim. Inteligência porque numa mesma jogada ele abriu espaço para a eleição de pelo menos um senador do seu bloco. E por que isso é importante? Porque desde 2002 Aécio tem se saído bem com os candidatos ao Senado indicados por ele. Em 2002 conseguiu eleger Eduardo Azeredo com quase 600 mil votos de frente sobre o segundo colocado, o jornalista Hélio Costa, que era o maior favorito naquele pleito. Costa também foi eleito, mas as más línguas dizem que ele nunca conseguiu engolir a vergonha de não ter sido o primeiro colocado. Em 2006, quando havia uma única vaga em disputa, Aécio, que era governador à época, ajudou a eleger Eliseu Resende, superando o franco favorito Newton Cardoso. Em 2010 Aécio fez barba e bigode se elegendo senador e ajudando a eleger o ex-presidente e ex-governador Itamar Franco. Naquela eleição ele desbancou ninguém menos do que o petista Fernando Pimentel, à época considerado o segundo maior nome da esquerda no país (havia quem dissesse que Fernando Pimentel era uma alternativa até melhor do que Dilma para presidente, embora não tenha conseguido sequer se eleger senador. Em 2014 Aécio e seu grupo não teve nenhuma dificuldade para eleger o ex-governador Antonio Anastasia, desbancando o famosíssimo empresário Josué Alencar, filho do ex-presidente José Alencar.
Até antes da entrada de Dilma Rousseff no páreo para a disputa do Senado em Minas neste ano, todo mundo dava como certa a reeleição de Aécio ao Senado, e provavelmente ajudaria a puxar o segundo nome da sua coligação. Esse era o raciocínio mais comum. Mesmo com a entrada de Dilma, a reeleição de Aécio nunca foi colocada sob suspeição, mas, segundo os analistas mais proeminentes, sem a garantia da segunda vaga.
Foi nesse momento que Aécio, ao invés de pensar apenas em si mesmo, abriu espaço para a eleição de um outro nome do seu grupo — seja Dinis Pinheiro ou Rodrigo Pacheco. Aliás, há quem diga que só a saída de Aécio da disputa ao Senado é que convenceu Pacheco a renunciar a sua candidatura ao Governo. Mas não só isso. Demonstrando inteligência, Aécio preferiu voltar à Câmara Federal onde certamente conseguirá ter um protagonismo muito maior num ambiente com menos raposas políticas.
Eu mesmo, David Ribeiro Jr., já havia escrito isso em editorial que publiquei no dia 27 de julho, intitulado: “Caso Aécio Neves: PSDB de MG precisa aprender com os erros do passado para ser mais eficiente agora”. No texto eu disse, me referindo a Aécio, que “o maior cego é aquele que não quer ver. Eu, David Ribeiro Jr., penso que o PSDB de Minas deveria aprender com os erros do passado para se tornar mais proativo e mais eficiente nas eleições deste ano. Que o senador Anastasia tem tudo para ganhar as eleições de 2018… Tem. Não que eu esteja afirmando isso aqui. Só estou reverberando o que demonstram as pesquisas mais recentes. Mas não basta vencer. É preciso se afirmar e se firmar para poder governar depois… e governar bem. A governabilidade depende impreterivelmente da lealdade das pessoas que compõem esse governo ou que compõem a base que possibilitará que o hoje candidato se torne governante amanhã”.
Eu disse no título deste editorial que, além de inteligência, Aécio também demonstrou grandeza. E aí pergunto: Como ele conseguiu demonstrar grandeza?
Afastando-se ao máximo da pré-campanha do seu candidato a governador, Antonio Anastasia. Eu duvido que o eventual desgaste de Aécio atrapalhe ao PSDB como alguns tucanos acreditam. Se isso fizesse sentido ele não estaria disparado nas pesquisas, como está. E ainda há algo a se considerar. O eleitor de esquerda é barulhento. O de direita, não. Ou seja: eu apostaria que Aécio, se mantivesse a candidatura, teria mais votos do que Dilma para o Senado nesta eleição. Pena que não teremos como tirar a prova dos nove. Mas não se assuste se a chapa de Anastasia conseguir eleger os dois nomes para o Senado, de novo.
Bem… de qualquer modo, como o entendimento do grupo do PSDB é de que Aécio tem desgaste demais para compor palanque, o próprio Aécio preferiu se afastar e impedir que o seu pseudodesgaste pessoal, embora até agora não tenha sido condenado por nada, atrapalhe o seu candidato a governador.
Não será nenhuma novidade para as pessoas que conseguem observar o processo político se Aécio se tornar, ao longo dos próximos anos, o nome mais expressivo da política do Estado… mais uma vez.
Quem viver, verá!
