Por David Ribeiro Jr.
Eu estava passando por acaso na sala onde meus filhos viam televisão quando a tela foi inundada por uma propaganda estatal do governo de Minas na noite do dia 26 de novembro. Como trabalho com produção de conteúdo para um portal de notícias chamado Minas Repórter, é claro que parei na mesma hora para assistir.
O que vi foi uma sequência de imagens e informações truncadas que pareciam, reunidas, a mais incompetente das peças publicitárias que um governo poderia produzir. Qualquer pessoa minimamente alfabetizada entende, ao assistir aquilo, que o Governo está pedindo desculpas pela sua incompetência, por não ter conseguido cumprir o que prometeu em campanha, e por não ter conseguido até hoje dar uma identidade à sua gestão à frente do Estado. Assista à peça no vídeo abaixo e tire sua própria conclusão:
Viu só?
Volto a dizer que qualquer pessoa minimamente alfabetizada percebe o claro pedido de desculpas por não ter conseguido empreender o governo prometido, o tal governo de todos. O pedido de desculpas, contudo, é pelo menos compreensível. Dilma deveria fazer algo parecido em nível nacional. O problema é que essa peça publicitária não é apenas um incompetente pedido de desculpas. É, mais do que isso, um amontoado de mentiras que tinha como objetivo claro desqualificar o governo anterior. Mas não funcionou.
Um canal do mesmo youtube chamado Turma do Chapéu divulgou apenas um dia depois a mesma peça de propaganda, só que editando-a para mostrar as mentiras ali contidas. Acompanhe:
Talvez você que me lê agora pode estar contestando a minha racionalidade e questionando o seguinte: “David, pensei que você fosse mais inteligente. Não deu para perceber que o segundo vídeo foi montado por pessoas ligadas ao governo anterior, e cujo grupo faz oposição ao governador Pimentel?”
É claro que me indaguei sobre essa possibilidade. Na verdade, foi a primeira coisa que pensei. E, se mesmo assim, insisto em escrever aqui um post sobre o assunto, é porque o primeiro vídeo está, de fato, carregado de mentiras. Já o segundo, mesmo que tenha nele o dedo, ou até a mão toda da oposição a Pimentel, é quase um trabalho jornalístico ao apontar as mentiras do Governo. A peça de propaganda oficial diz que Pimentel [não aparece o seu nome, mas isto está implícito] encontrou o Estado cheio de desafios e muita coisa para acertar. Até aí tudo bem. Cabe uma série de interpretações na frase, e, de fato, o governo anterior estava longe de ser perfeito. É por isso, inclusive — o governo anterior não ser perfeito —, que os mineiros, democraticamente, elegeram um governo novo, na esperança de um governo MELHOR. Mas, infelizmente, não é isso o que temos visto.
Preste atenção para um fato curioso: o vídeo que desmente o Governo começa apresentando informações do Banco Central (portanto uma fonte confiável) demonstrando que Minas Gerais foi o único estado da federação a conseguir um superávit, ou seja, gastar menos do que arrecadou, em 2014, apesar dos petistas insistirem num discurso mentiroso em contrário. E há outro detalhe que não aparece no vídeo: nos doze anos do governo tucano em Minas, o déficit público — ou seja, a dívida do estado — foi diminuído em um terço. Já na União, sob o governo petista, o déficit público aumentou em pelo menos cinco vezes, razão maior para a crise que estamos vivendo agora.
A propaganda petista também exalta um tal acordo histórico com os professores que é, na realidade, apenas um engodo. Isso mesmo, um engodo. Além de tudo o que é demonstrado no segundo vídeo sobre o tal acordo, apresentarei outras explicações de por que não passa de um engodo.
O piso salarial do Magistério em 2015, a título de exemplo, já que é o ano do início do Governo de Pimentel, é de R$ 1.917,78 (um mil, novecentos e dezessete reais e setenta e oito centavos). O governo anterior pagava um salário abaixo do piso e inventava um monte de desculpas para se justificar.
“Uai, tá falando mal agora do governo dos tucanos?”
Estou, sim. Por não ter rabo preso com ninguém, não preciso me policiar. Sou pautado apenas pela minha consciência. E, como eu já disse acima, o governo tucano estava longe de ser perfeito. E a minha função aqui é escrever com base em fatos. E os fatos mostram que a política salarial do governo anterior para com os professores era ruim. O problema é que no governo atual a situação não é nenhum pouco melhor. O governador Pimentel prometeu aos professores que daria um aumento escalonado do salário-base em quatro anos para chegar a 2019 pagando o piso nacional da categoria. Convenhamos que assim é fácil. Quem pode garantir que o governador não empurrará a responsabilidade do pagamento do piso para o último ano de governo, daria realmente o aumento visando a reeleição, e depois travaria até o reajuste da categoria no ano seguinte?… Pois é. O próprio Governo acabou fazendo pior do que isso. Apesar do acordo firmado, já anunciou que não tem dinheiro em caixa sequer para pagar o reajuste do ano que vem, quanto mais a parcela do aumento escalonado. E sabe por que não tem dinheiro? Daqui a pouco eu explico.
Antes, pergunto: como é que se pode acreditar na palavra dessa gente?
O terceiro ponto que quero abordar é a respeito das obras paralisadas. É outro engodo do governo. Se obras foram paralisadas em Minas, e foram aos montes, é porque o grupo de Pimentel, de forma incompetente, articulou mal e travou a aprovação do orçamento para 2016, mesmo antes de assumir — um verdadeiro tiro no pé.
Sem um orçamento aprovado, o novo governo, ao assumir, teve que parar até mesmo obras para as quais o dinheiro já estava em caixa, como foi o caso do Hospital Regional de Teófilo Otoni. A intenção era jogar a responsabilidade por essas paralisações no governo anterior. Porém, o que os petistas demoraram a entender é que eles é que tinham vencido as eleições. O governo anterior morreu. Se o povo quisesse saber do governo anterior, quem estaria no poder seria Pimenta da Veiga, e não Pimentel.
Aquela jogada, travar a votação do orçamento, além de idiota, foi irresponsável. A paralisação das obras foi o resultado de uma manobra política desastrada da parte do grupo do governador, mesmo antes de assumir o poder. A lógica seria deixar aprovar o orçamento e ir fazendo costuras e acertos depois. Mas como essa gente não entende muito de lógica… fazer o quê, né?
Fato é, para concluir essa discussão, que a peça publicitária do governo, mais do que incompetente — porque causou um efeito contrário do esperado na população — é um amontoado de mentiras.
Até onde isso vai dar?
Não sei. Quem viver, verá!