Você, muito provavelmente, já deve ter ouvido falar sobre a meditação, certo? Pois saiba que antes de falarmos sobre os benefícios da prática é importante compreender que ela nada tem a ver com religião, ok? Na verdade, há quem defina a meditação de forma bem simples, como, por exemplo, uma maneira de “esvaziar a mente”. O que isso significa? De forma resumida, essa expressão exemplifica que a partir de determinadas técnicas, como aprender a controlar a respiração e os pensamentos, você consiga se autoconhecer melhor, evitando inclusive que pensamentos ruins prejudiquem o seu bem-estar e o equilíbrio da mente. Claro que os benefícios e os conceitos vão muito além disso.
Quando meditamos, explica Roberto Cardoso, médico ginecologista, nosso cérebro, ativa inicialmente o lobo pré-frontal (responsável por funções de planejamento e a tomada de decisões) devido ao exercício de foco que a meditação exige. Depois são ocupadas áreas cerebrais que, habitualmente, se relacionam com a produção de alerta, tornando essas regiões menos propensas a disparar reações de alarme e, assim, produz o relaxamento. Em seguida, são reduzidas as funções em outras áreas, inclusive em uma parte do lobo parietal, região que se relaciona com percepção de limites e orientação espacial. “Por isso, quem medita experimenta a sensação de expansão, relaxamento e transcendência”, explica o médico, que também é professor e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Doutor Roberto reforça ainda que ele é um dos adeptos e realiza a prática, diariamente, há 27 anos. Dentre os benefícios, ele destaca de forma rápida os principais. “Mais foco, mais tolerância, menor rigidez, mais consciência, maior auto-observação, menor frequência de viroses e, acima de tudo, uma nova visão da vida. Mas nada aconteceu de uma vez. Foram mudanças demoradas, mas que chegaram para ficar”, diz o médico, que também é autor de um estudo na Unifesp que mostra a meditação como um dos fatores que contribuem com a redução da ansiedade nas mulheres grávidas.
O especialista, no entanto, comenta que além de praticar também se aprofundou nos estudos sobre meditação. “Tive a oportunidade de conhecer correntes filosóficas que utilizavam a meditação como parte de sua proposta. Pratiquei diversas técnicas de budismo chinês, tibetano e vietnamita, bem como do hinduísmo de vários ramos da yoga, do taoísmo, dentro outros. Conheci na teoria mais de 100 técnicas e, na prática, mais de 60”, explica Roberto, que compartilha sua experiência e ensinamentos no livro “Medicina e Meditação – Um médico ensina a meditar” (Ed. MG).
Outro adepto da prática é Rubens de Aguiar Maciel, o doutor em saúde pública, pela Universidade de São Paulo (USP), e psicólogo que coordena o Programa de Redução do Estresse Baseado na Meditação da Atenção Plena, no Centro de Saúde Paula Souza, da Faculdade de Saúde Pública da USP. Ele ressalta que uma maneira de estudar a meditação é compreender quais são seus mecanismos e explica que, quando começamos a meditar, reduzimos nosso metabolismo físico e vamos reestabelecendo o equilíbrio do corpo inteiro.
“Do ponto de vista da ciência podemos dizer às pessoas que a meditação não é bobagem. Essa prática nos leva a estados muito agradáveis e bem diferentes do nosso modo de comportamento normal. Se você der uma busca no “PubMed” [renomado banco de dados norte-americano que possui pesquisas e artigos médicos] com as palavras “meditação” e “ansiedade”, você encontrará quase 100 mil estudos científicos mostrando os benefícios da prática”, ressalta Rubens de Aguiar Maciel. Ele também trabalha os efeitos da meditação em pacientes com hipertensão arterial em seu pós-doutorado na USP.
“A prática promove um bem-estar que pode, inclusive, ser coadjuvante no tratamento de doenças. Se realizada de maneira constante, por exemplo, reduz estresse, ansiedade e funciona até mesmo como tratamento complementar em alguns casos de depressão. Meditar também ajuda a desenvolver um foco de atenção para a vida diária”, explica Elisa Harumi Kozasa, neurocientista do Instituto do Cérebro, do Hospital Israelita Albert Einstein, com pós-doutorado em Psicobiologia pela Unifesp.
Outra pessoa que virou adepta e logo sentiu os benefícios da meditação é a estudante de educação física, da Universidade de São Paulo, Bruna Garroux. “Meus relacionamentos e minha saúde melhoraram, me conscientizei sobre o funcionamento do meu corpo e da mente. Além disso, meu sono e minha alimentação se transformaram completamente. Hoje, durmo e me alimento muito bem. E isso aconteceu só com a prática constante e regular. Portanto, é preciso, sim, de disciplina. É libertador. Vale a pena”, convida a estudante.
Como meditar?
Não é preciso ser monge ou iogue para aproveitar os benefícios da meditação. Basta ficar numa posição confortável, sentado ou deitado, e com a coluna ereta, sem cruzar pernas e braços. De olhos abertos, você começa a inspirar lenta e profundamente pelo nariz, e expirar pela boca por três vezes. Agora feche os olhos e respire normalmente. Agora tente, por cinco minutos, observar o que acontece em sua mente sem se ater a nenhum pensamento. Depois abra os olhos e torne a respirar profundamente por três vezes.
A meditação, mesmo com diferentes escolas e metodologias próprias (pode-se meditar com som, posições específicas etc), é bem simples. Mas para quem nunca praticou, cinco minutos talvez pareça um período interminável e nossa mente fará de tudo para nos incomodar. “Mas meditar é simples e natural. Uma vez aprendido o método, é importante praticá-lo todos os dias. A regularidade e continuidade da prática influenciam diretamente no resultado, além, claro, de disciplina e perseverança”, explica Marli Medeiros, professora de meditação em Raja Yoga (técnica de meditação) há mais de 30 anos.
(Fonte: MSN SAÚDE)