Alvo de estudos e projeções desde março, o tão esperado pico de contágio do novo coronavírus em Minas Gerais, previsto para esta quarta-feira (15), possivelmente nem chegará. A nova expectativa da Secretaria de Estado de Saúde é que ocorra um platô, ou seja, que o contágio tenha estabilidade em um patamar alto.
O G1 ouviu especialistas sobre o comportamento atual da pandemia no estado e o que se deve esperar a partir de agora.
Desde o início de junho, o governo de Minas tem estimado o pico para 15 de julho. Na primeira vez que foi dada esta projeção, no dia 6 do mês passado, o estado tinha 15.883 casos confirmados pela Covid-19 e 380 óbitos. Vinte dias depois, o secretário de Estado de Saúde Carlos Eduardo Amaral afirmou que a primeira semana de julho seria a de maior contágio pela doença.
Na manhã desta terça (14), o número de casos confirmados aumentou quase cinco vezes, se comparado com o início de junho, chegando a 78 mil, e o número de mortes, 4,5 vezes maior, chegando a 1.688. Porém, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, disse que só é possível saber se houve pico ou platô quando os números de novos casos apresentarem queda.
“Quando falamos que a gente teria um pico, entendíamos que teríamos um momento de estresse na assistência. É impossível falarmos, com certeza absoluta, quantos casos nós teremos e que dia teremos esses casos. De um modo geral, a gente tinha uma certa folga no dimensionamento de leitos. Se isso se concretizar, poderemos ter a passagem por esse momento de estresse sem tanta dificuldade”, completou Amaral.
O professor de matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ricardo Takahashi, que lidera estudos referentes à evolução da Covid-19 na capital mineira, confirmou que o comportamento de uma epidemia é mesmo variável e que não é possível estimar com precisão o contágio do vírus em todo o estado.
“Estimar pico para Minas é complicado porque os modelos que a gente usa dizem respeito a um aglomerado urbano, no caso, Grande BH. Para Minas, teria que simular os vários aglomerados e fazer soma de todos os processos. Não dá para simular Minas todo com uma única simulação, porque tem coisas diferentes acontecendo em locais diferentes, tudo ao mesmo tempo”, explicou.
Através de cálculos matemáticos, Takahashi afirma que a medida tomada pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) em 29 de junho, de fechar novamente o comércio, pode ter antecipado o pico na capital mineira. Ainda segundo o professor, o ápice da pandemia na capital pode estar ocorrendo neste momento.
“A projeção que tinha feito com dados até o finalzinho de junho indicava que, em Belo Horizonte, a gente estava no meio da subida e aconteceria um pico mais para a frente. Isso foi feito com dados antes da decisão da prefeitura de voltar atrás na flexibilização. É claro que cada vez que se toma uma decisão como esta, muda totalmente a projeção. A decisão da prefeitura pode ter surtido efeito, mas nós vamos conseguir notar os efeitos depois. (…) Vai ser uma curva bem mais baixa do que ocorreria se nada fosse feito”, disse.
O infectologista Carlos Starling, membro do Comitê de Combate à Covid-19 em Belo Horizonte, concorda que só será possível saber se o pico chegou dias ou semanas após a estabilidade dos números de novos casos. E que Minas Gerais, por reunir realidades tão diversas, pode ter picos diferentes.
“Isso é reflexo das orientações díspares, da confusão que o governo federal criou. O descompasso entre governo federal, estadual, municipal é igualzinho a uma orquestra mal regida. É igualzinho um maestro que não consegue controlar esta orquestra. Resultado é uma música que ninguém gostaria de ouvir, muito desafinada”, comparou o médico.
Ele alerta que, ainda que passemos pelo pico, seja no estado ou em Belo Horizonte, não é hora para relaxar o isolamento.
“O momento, mais do que nunca, é de se manter em isolamento e distanciamento social, além de todos os cuidados de higiene. E de as pessoas terem paciência, porque, quando não se tem uma vacina, é isso que a gente vive”.
(Com informações de Patrícia Fiúza – G1 Minas)