Por David Ribeiro Jr.
TEÓFILO OTONI
Neste final de semana estava lendo o livro Útil e Agradável, do meu amigo Julimar Blanc, quando me deparei com uma parábola que me fez refletir um pouco mais a respeito das duras ofensas caluniosas que sofri no domingo passado (26/03) nas redes sociais. A parábola do livro narra a história de dois irmãos fazendeiros que estavam brigados por um motivo bobo, algo bem fútil mesmo, e cuja briga só ganhou dimensões ainda mais exageradas à medida que o tempo foi passando.
Um dia um carpinteiro bateu à porta do irmão mais velho e pediu emprego. Já não suportando ter que acordar pela manhã e ver a cara do irmão mais jovem do outro lado da sua propriedade, o primogênito pediu ao carpinteiro para construir um muro de madeira separando as duas propriedades.
O carpinteiro trabalhou a noite toda na sua empreitada e, na manhã do dia seguinte, quando o irmão mais velho acordou, esperava encontrar o muro construído em torno da sua propriedade. Assim não teria que acordar e ter que olhar o irmão mais jovem do outro lado. Mas, para a sua surpresa, não havia muro algum. As duas propriedades eram delimitadas por um pequeno córrego de água entre uma e outra. E, ao invés do muro, o carpinteiro teve a coragem e a cara de pau de construir uma ponte ligando as propriedades. E, pior, o seu irmão mais novo, com quem estava brigado, estava do outro lado da ponte vindo em sua direção.
O irmão mais velho, ao se deparar com a cena do irmão mais novo invadindo a sua propriedade, pegou a espingarda e saiu correndo disposto a fazer uma besteira para prevalecer naquela manhã. Mas, enquanto corria para brigar, percebeu que o irmão mais novo vinha em sua direção chorando, e de braços abertos. Quando se encontraram no meio da ponte, o mais novo disse: “Que bom que você pensou diferente de mim e construiu esta ponte para nos unir e para não continuarmos mais brigados!” O irmão mais velho não se aguentou diante da situação inusitada e começou a chorar também enquanto abraçava ao seu irmão.
Teófilo Otoni precisa de mais pontes e de menos muros
Na semana passada eu e algumas outras pessoas fomos vítimas de ataques covardes, ofensivos e caluniosos nas redes sociais (leia mais aqui e aqui). Mas, diante da leitura desta narrativa, me convenci de que estamos precisando de mais pontes e de menos muros. E, pior: ao longo da semana passada eu pude constatar que algumas pessoas da nossa política local, alguns puxa-sacos inexpressivos, mas com alto poder de destruição da moral alheia, e que acusa os outros de cometerem os pecados que eles cometem, não estão construindo apenas muros. Estão construindo verdadeiras muralhas. Eles não conseguem entender que o ambiente político não é um cenário de guerra. Muito ao contrário, é um ambiente de convivência entre pessoas que podem, sim, e têm todo o direito, de pensarem diferente umas das outras.
Ainda me lembro até hoje de uma ocasião em que entrevistei o ex-deputado Kemil Kumaira, já falecido, e ele me disse que um dia o líder da ARENA, o partido do governo militar, Aureliano Chaves, o convidou para conversarem um pouco e, depois da conversa, Aureliano lhe teria dito mais ou menos assim: “Kemil, você e eu, bem como nossos partidos, a esquerda e a direita, buscamos a mesma coisa, o melhor para Minas e para o Brasil. Só temos pontos de vistas diferentes sobre como alcançar o que queremos. Mas o objetivo é um só”.
É claro que eu, David Ribeiro Jr., reprovo a ditadura militar. E reprovo de forma contundente. Mas não posso deixar de enxergar uma enorme verdade na fala de Aureliano Chaves. As pessoas de bem estão sempre em busca do que é melhor para todos, mesmo quando não concordam com os métodos dos outros. No ano passado, assim que o prefeito Daniel Sucupira foi eleito, escrevi um editorial com o tema Como as pessoas de bem devem reagir à vitória de Daniel Sucupira, que, orgulhosamente, foi até reproduzido pelo Jornal Diário Tribuna, na íntegra. Como eu disse naquele editorial, as pessoas de bem torcem pelo progresso coletivo e conseguem enxergar que é preciso tolerar as diferenças em prol de um bem maior para a nossa cidade. As pessoas pequenas, aquelas que não são pessoas de bem… puxa-sacos e alguns outros da sua laia… preferem transformar o ambiente de convivência social em uma guerra. E o que é pior: nem chega a ser uma guerra de ideias ou de opiniões diferentes. É só uma guerra entre pessoas. Pura e simplesmente entre pessoas. E em momentos assim eu penso no que aprendi ao estudar Filosofia na escola: “Grandes pessoas discutem sobre ideias; pessoas medíocres (medianas) falam sobre coisas; e apenas as pessoas pequenas perdem tempo falando sobre outras pessoas”.
Grande verdade! E, convenhamos, se aplica bem ao momento que estamos vivendo.
E, voltando ao título deste editorial, concluo lembrando que “Pessoas inteligentes, na política e na vida, constroem pontes. Só os idiotas constroem muros”.
Quem viver, verá!