Os diferentes tipos de puxa-sacos que infestam o meio político teófilo-otonense

Os diferentes tipos de puxa-sacos que infestam o meio político teófilo-otonense

O puxa-saco é um ser que vive curvado para servir ao seu político favorito (imagem: Blog do Manoel Lobato | Reprodução)
O puxa-saco é um ser que vive curvado para servir ao seu político favorito (imagem: Blog do Manoel Lobato | Reprodução)

Por David Ribeiro Jr.

E aí vamos nós para um assunto bastante espinhoso, mas muito apropriado para o momento que estamos vivendo: o início de uma nova administração municipal na maioria das cidades da nossa região. Esta é a época em que mais fica evidente o quanto somos suscetíveis a uma praga muito perniciosa identificada pelos especialistas em antropologia, sociologia e análise do comportamento humano como…

Puxa-saquismo (sim, a palavra existe e é reconhecida pela Academia Brasileira de Letras – ABL). E, detalhe: apesar do título deste editorial remeter a Teófilo Otoni, cidade onde vivo, e onde está sediado o portal minasreporter.com, esta é uma realidade muito comum na maioria das cidades da nossa região. Na realidade, quanto menor a cidade (e Teófilo Otoni é a maior do Vale do Mucuri) mais comum é de se encontrar esse ser nativo da política regional: o puxa-saco.

Mas, não se engane, a proliferação dos puxa-sacos independe de ocasião. O puxa-saquismo é um comportamento que pode ser definido como um estilo de vida. Portanto, não tem tempo ou época mais apropriados para se manifestar. O puxa-saquismo é uma escolha, uma opção, mas também faz parte da personalidade do indivíduo, da sua natureza… tudo isso junto e misturado. Não vou dizer que o puxa-saquismo tem a ver com caráter por motivos óbvios: dificilmente conseguimos associar essas duas palavras numa mesma frase: “puxa-saco” e “caráter”. A não ser que seja uma excluindo a outra. Aí até pode ser.

Habitat
O puxa-saco é um ser que habita os meandros do poder, mas não muito comumente em lugares de destaque. Na maioria das vezes o puxa-saco vive no porão do poder, nos becos, nos lugares escuros e pouco iluminados, à margem… enfim, o puxa-saco tem uma existência miserável, mesmo que pose como um ser próspero e bem-sucedido. Na verdade, o puxa-saco não passa de um enganador, alguém que quer passar uma imagem que na maioria das vezes não condiz com a sua realidade, com o seu verdadeiro eu público ou privado.

Mas paremos de falar do puxa-saco de forma teórica e vamos a alguns exemplos práticos das diferentes variações desse ser que superabunda em nossa fauna política. Talvez você até o conheça por outros nomes e designações: bajulador, lambe-botas, adulador, manteigueiro, chaleira (quanto a esses dois últimos, não me pergunte por quê), mas em essência são a mesma coisa, a mesma praga que aqui identifico como puxa-saco.

1. Puxa-saco circunstancial — É a menos prejudicial e peçonhenta variação dessa raça. O puxa-saco circunstancial, ou momentâneo, é aquele que usa o tempo que está orbitando em torno do político que serve para aprender e prospectar novas oportunidades. Geralmente a sua relação com o político começa como um estágio ou emprego temporário que alguém lhe indica. É muito parecido com milhares de outros exemplos que ocorrem na iniciativa privada. O problema é quando o indivíduo se encanta pelo poder que o cerca e, para garantir que continue a prospectar “novas oportunidades”, decide que, ao invés de mostrar serviço, de mostrar valor, vai partir para o caminho comum do puxa-saquismo. Como eu disse, é o menos prejudicial dos puxa-sacos, mas ainda assim tem a sua peçonha. E, quando a peçonha se manifesta, esse tipo de puxa-saco experimenta uma verdadeira metamorfose, pois, o que era para ser um puxa-saquismo momentâneo e circunstancial se transforma no próximo tipo…

2. Puxa-saco aprendiz — Esse tipo de puxa-saco, na maioria das vezes uma evolução do tipo anterior, é, também, o que mais cresce no meio político. Ao perceber todas as oportunidades que há quando se coabita com o poder, costuma se encantar com o que vê — afinal, tem suas ambições — e começa a pensar e a arquitetar planos para conquistar o seu lugar à sombra, a sua fatia do bolo… Alguns acabam tendo até algum sucesso com esse estilo de vida e galgam posições importantes, muitas vezes até conquistando cargos… mandatos eletivos… mas nem assim conseguem disfarçar o que são de fato: puxa-sacos. É da essência da sua natureza.

3. Puxa-saco inconveniente — Esse é um mala. Literalmente! Todo mundo, mesmo quem não frequenta os círculos da política ou do poder, já se encontrou com um assim, ou com vários. O puxa-saco inconveniente se caracteriza por invadir espaços, físicos e virtuais, para falar bem do seu chefe. Às vezes, durante uma reunião qualquer, alguém reclama da falta de respaldo das lideranças políticas para com o crescimento e desenvolvimento da cidade e região. Em momentos assim o mala entra no meio da conversa, mesmo sem ser chamado, e comenta que o seu chefe, o seu patrão, tem feito isso e feito aquilo outro diferente. Muitas vezes o puxa-saco é tão mala que, mesmo na rua, no espaço público, invade a conversa privada de duas pessoas que estão falando mal dos políticos para dizer que o chefe dele é diferente — ou, pelo menos, ele pensa que é diferente. E, do mesmo modo como invade espaços físicos, o puxa-saco inconveniente também invade espaços virtuais. É muito comum encontrar o mala fazendo enormes comentários no Facebook e outras redes sociais (aqueles textões que ninguém lê) para defender o seu chefe/patrão. Outra característica bastante comum desse tipo de puxa-saco é invadir festas e eventos privados usando como carteirada o fato de ser assessor (que belo nome para um puxa-saco) do político a quem serve, que é de fato quem foi convidado para a festa. Mais inconveniente, impossível!

4. Puxa-saco profissional — Muitos especialistas o conceituam como uma evolução ou variação do tipo anterior. Eu prefiro conceituá-lo separadamente. O puxa-saco profissional é aquele que faz do puxa-saquismo um meio de vida, uma carreira, uma especialização. A diferença do puxa-saco inconveniente para o puxa-saco profissional consiste no fato de que o primeiro é apenas um chato sem desconfiômetro. O segundo é um profissional no completo sentido da palavra, um técnico, um especialista, alguém que conhece a fundo a arte do puxa-saquismo e suas especificidades. O puxa-saco profissional é aquele que sempre procura reverter a situação ruim em torno do seu chefe para algo no mínimo palatável. Ele sempre arranja, publicamente — por mais que, em alguns casos, nem ele mesmo acredite nisto —, uma desculpa para os erros do seu chefe. Mas não qualquer desculpa. Tem que ser uma que cole, que seja crível, que as pessoas ouçam e, preferencialmente, saiam repetindo a informação, mesmo que seja uma tremenda mentira. É por isso que ele(a) é chamado de profissional.

5. Puxa-saco chique — É o tipo do indivíduo, homem ou mulher, que gosta de posar de “elite”. Costuma vestir uma roupinha que chama de social, tipo calça de linho, camisa de manga comprida, tailleur, bolsa de marca (claro que é só imitação) e um celular espalhafatoso na mão. O puxa-saquismo dessa gente se dá às escuras, ou, pelo menos, de portas fechadas. Chega de mansinho, tipo bonzinho, e pede algo para os outros, para a igreja, para a entidade que apoia… mas, na verdade, está pedindo um benefício do qual usufruirá indiretamente, quando não diretamente. Depois que consegue o compromisso do político para o que pediu, passa a apoiá-lo dizendo que está fazendo isso em nome de uma causa maior… sei!

6. Puxa-saco existencial — É aquela pessoa que não sabe fazer outra coisa além de orbitar em torno de um político de expressão. Fazer isso é a essência da sua vida; é o seu Nirvana, o seu único motivo de êxtase. É quando unicamente se sente alguém neste mundo. No passado esses seres, os puxa-sacos existenciais, costumavam orbitar durante anos e anos em torno de um mesmo político. Hoje em dia isso tem mudado bastante. À medida que os tempos avançam, muitas vezes ficando o político por um tempo sem mandato e sem poder, o puxa-saco existencial, que não sabe fazer outra coisa daquilo a que chama de vida, acaba migrando de um político para outro — afinal, o pobre-coitado precisa sobreviver. É por isso que hoje em dia é mais comum do que antes ver pessoas aplaudindo… (vamos ser sinceros, o termo é puxando o saco, mesmo) um político hoje, e outro amanhã. Fato é que esse tipo de gente não sabe fazer outra coisa além de puxar o saco, seja de quem for. É a sua vida, o seu rumo, o seu norte, e, por que não dizer também?, o seu destino. Olhe para o lado agora mesmo e é bem capaz de haver um assim aí bem perto de você.

7. Puxa-saco mau-caráter — É o pior tipo dessa praga. E explico porquê. O puxa-saco mau-caráter é aquele(a) que reúne “um pouco” de todos os outros tipos já enumerados aqui, acrescido de um enorme amoralismo. Se você não conhece a palavra, amoralismo é a completa ausência de princípios morais. A pessoa amoral é, em essência, um ser sem consciência, sem princípios, sem regras, que vive única e exclusivamente para sobreviver, quase que instintivamente, e capaz de fazer tudo o que for necessário para atingir as suas metas. Aplicando-se o amoralismo ao puxa-saquismo resulta-se um estilo de vida que é muito comum em pessoas que vivem na… você sabe onde. O puxa-saco amoral, ou mau-caráter, é capaz de mentir sem receio, de caluniar sem sentir remorso, de boicotar, de denegrir e de inventar histórias em benefício do seu chefe ou do seu grupo político, e de sacanear com qualquer um que cruze o seu caminho. Mas, se você acha isso pouco, saiba que o puxa-saco mau-caráter é capaz de ir muito mais longe. Se o seu chefe quiser, por exemplo, fazer sexo com uma garota menor de idade, só a título de uma ilustração bem chula, o puxa-saco vai atrás de uma moça pobre, que, por dinheiro, faz qualquer coisa, mesmo sendo menor, e a alicia para o seu chefe. Simples assim. Se o gosto do seu chefe for um tanto quanto exótico — ou diferenciado — em matéria de sexo… sem problemas, o mau-caráter encontra uma opção de acordo com o gosto do freguês. E, em último caso, ele(a) mesmo está aí para… você entendeu.

Bem… agora que apresentei o resultado desse estudo que levou muito tempo em pesquisa de campo… ou nem tanto assim, afinal estamos em Teófilo Otoni, volto a te convidar a olhar para o lado e começar a classificar os diferentes tipos de puxa-saco que existem aí mesmo perto de você.

Ah!… E como eu sei que algumas pessoas vão me mandar e-mail e mensagens perguntando para quem este texto realmente se dirige, respondo:

Quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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