Polícia Federal e Ministério do Trabalho acabam com seita que mantinha trabalhadores escravos em MG

Polícia Federal e Ministério do Trabalho acabam com seita que mantinha trabalhadores escravos em MG

Operação Canaã desmonta sonho da “terra prometida” por seita para trabalhadores Número de resgatados pode chegar a 900 de acordo com estimativa da Polícia Federal

Policiais federais cumprem mandados da Operação Canaã em São Paulo, Minas Gerais e Bahia (Foto: Reprodução/EPTV)
 
Trabalhadores em condição análoga à de escravo foram resgatados nesta terça-feira (6) em 15 municípios de Minas Gerais, São Paulo e Bahia.Em uma avaliação preliminar da Polícia Federal, haveria cerca de 900 pessoas trabalhando de forma irregular. Como a ação ainda está em andamento, o número deve sofrer alteração. Foi uma das maiores operações de resgate já realizadas no país nos últimos anos. Pelo menos 22 pessoas foram presas.
 
Batizada de Operação Canaã – A Colheita Final, a ação envolveu 58 auditores-fiscais do Ministério do Trabalho integrantes do Grupo Especial de Fiscalização Móvel e das superintendências dos três estados, mais 220 policiais federais. O grupo cumpriu 22 mandados de prisão preventiva, 17 de interdição de estabelecimento comercial e 42 de busca e apreensão. 
 
O nome da Operação é uma referência bíblica à terra prometida, já que os trabalhadores teriam sido aliciados por dirigentes de uma seita religiosa conhecida como Comunidade Evangélica Jesus, a verdade que marca. Eles teriam sido abordados na sede da igreja na capital paulistana, onde teriam sido convencidos a doar os bens para as associações controladas pela organização e convencidos a mudar-se para uma comunidade, onde todos os bens móveis e imóveis seriam compartilhados.
 
Após serem induzidos, os fiéis doutrinados foram levados para zonas rurais e urbanas em Minas Gerais (Contagem, Caxambu, Betim, Andrelândia, Minduri, Madre de Deus, São Vicente de Minas, Pouso Alegre e Poços de Caldas), na Bahia (Ibotirama, Luiz Eduardo Magalhães, Wanderley e Barra) e em São Paulo (capital).  Eles trabalhavam em lavouras e em estabelecimentos comerciais como oficinas mecânicas, postos de gasolina, pastelarias, confecções e restaurantes, todos comandados pelos líderes da seita.
 
Investigação
 
O chefe do Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho, Maurício Krepsky Fagundes, explica que a operação desta terça foi resultado de uma investigação conduzida pela Polícia Federal. Um dos itens que mais chamou à atenção dos policiais foi o crescimento do patrimônio pessoal dos líderes da seita e o aumento dos fiéis agregados nos últimos cinco anos.
 
Fachada da igreja Traduzindo o Verbo, no bairro da Lapa, em São Paulo, cujos líderes foram alvos de operação da Polícia Federal (Foto: Dimitrius Dantas / Agência O Globo | Reprodução)
 
“Desde 2013, tem sido feito um trabalho de inteligência para achar os locais onde os aliciados trabalhavam, as fraudes praticadas pela organização criminosa e, principalmente, a caracterização do crime de tráfico de pessoas”, destaca Maurício.
 
O chefe da equipe de fiscalização do Ministério espera que a operação contribua para o fim das operações da seita. As atividades comerciais de estabelecimentos pertencentes ao grupo já foram encerradas. E os auditores-fiscais do MTb seguem ouvindo todos os trabalhadores encontrados durante a operação para saber detalhes do que ocorria com cada um deles nas áreas onde foram encontradas as irregularidades.
 
Nos casos onde for confirmado o trabalho escravo, serão feitos os cálculos dos direitos trabalhistas, que deverão ser pagos pelas empresas criadas pela seita retroativamente desde a data em que os trabalhadores começaram a prestar os serviços. Os trabalhadores também serão encaminhados ao Programa de Seguro-Desemprego para Resgatados.
 
Histórico
 
A Operação Canaã teve origem em 2013, quando ocorreu o resgate de 348 trabalhadores na União Agropecuária Novo Horizonte S.A. e em empresas urbanas. O relatório dessa ação fiscal gerou uma ação penal do Ministério Público Federal (MPF), que determinou o retorno dos auditores-fiscais e dos agentes da PF aos locais investigados para averiguar a situação atual.
Na Polícia Federal, a investigação teve início quando a seita estava migrando de São Paulo para Minas Gerais. Em 2015, foi desencadeada sua segunda fase: “De volta para Canaã”, quando foram presos temporariamente cinco dos líderes da seita.
 
A deflagração desta terça-feira representa a terceira fase da operação, com a prisão preventiva de 22 líderes da seita que, segundo a Polícia Federal,  poderão cumprir até 42 anos de prisão, se condenados. O líder da seita, conhecido como Pastor Cícero, está foragido.
 
(Imprensa MTE)



Deixe seu comentário

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.