Por Reinaldo Azevedo, na VEJA.com:
Pois é… Quando o senador Aécio Neves (PSDB-MG) decidiu recorrer à Justiça para identificar 66 perfis no Twitter que moviam campanha sistemática contra ele, associando-o, entre outras coisas, ao consumo e tráfico de drogas e a um desvio bilionário de verbas na educação que nunca aconteceu, alguns tontos resolveram classificar tal decisão de censura. O tucano não se intimidou e fez bem. Descobriu que os ataques contra ele partiram de órgãos federais — entre eles, Serpro e Ministério da Fazenda.
A Justiça informa que um dos perfis responsáveis pela postagem pertence a Márcio Araújo Benedito, chefe da divisão de “projetos e tecnologias educacionais” do Serpro em Belo Horizonte, segundo informa Daniela Lima na Folha. O Serpro é nada menos do que a estatal responsável pelo sistema de tecnologia da informação do governo federal. O rapaz é filiado ao PT e pertence à Comissão de Ciência e Tecnologia do partido em Minas.
Há mais. Segundo os dados fornecidos pela Justiça, Benedito usou também computadores da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, organização ligada ao MEC e ao Ministério da Ciência e Tecnologia, para espalhar as mensagens contra Aécio. Mais impressionante: foram empregadas no trabalho sujo estruturas de três Estados: Rio, Mato Grosso do Sul e Brasília.
Benedito, que não é um idiota em tecnologia, tenta se defender de um modo um tanto estranho. Indagado se usou órgãos oficiais para atacar Aécio, responde:
“Não. Primeiramente, porque não fiz nenhum tipo de comentário que possa ser interpretado dessa forma. Meus comentários se restringiram a emitir a minha opinião sobre as administrações de Minas, fazendo uso de minha liberdade de expressão e pensamento. É preciso cuidado, pois apenas os endereços IPs não são suficientes para juntar uma coisa a outra. Não tive tempo de verificar, pois alguns locais são diferentes de onde trabalho.”
Como? Nem a liberdade de expressão justifica o uso de equipamento público para fazer política, ainda que estivesse apenas “emitindo uma opinião”. Mais: as mensagens caluniosas estavam no seu perfil e, de tal sorte eram evidentes, que a sua conta foi uma das 20 cujos dados foram fornecidos aos advogados de Aécio, por determinação da Justiça. Finalmente, note-se que o emprego de robôs permite que mensagens partam de locais distintos daqueles onde estão os titulares dos perfis.
Em abril do ano passado, reportagem de VEJA revelou que um dos computadores dos quais partiam calúnias sistemáticas contra Aécio estava na Eletrobras. Informava o texto:
“Os detratores do senador se valem de estratagemas mais difíceis de ser descobertos e que requerem domínio específicos de tecnologias feitas para produzir dano. Um texto idêntico e calunioso, tendo como autor um mesmo (e falso) usuário, aparece em áreas de comentários em diferentes sites ao mesmo tempo. Isso é sinal claro do uso de robôs digitais. Um dos rastreamentos feitos por peritos localizou um dos focos de geração de calúnias contra Aécio em um computador da estatal Eletrobras.”
É preciso parar
Que bom que Aécio não se deixou intimidar por falsos porta-vozes da liberdade de expressão. É evidente que as redes sociais não podem ser empregadas para praticar crimes. Tanto pior quando os criminosos estão incrustados nas próprias estruturas do estado. É preciso pôr fim a esse tipo de banditismo.
Se querem saber com que rigor o Serpro trata a questão, leiam esta pergunta e esta resposta:
O sr. chegou a ser procurado pelo órgão em que trabalha para tratar da ação que o senador tucano move contra usuários do Twitter?
Não. Até porque minha conta é pessoal e não se mistura com nada do meu trabalho.
Entenderam? A Justiça aponta o rapaz, que exerce cargo de chefia, como o responsável pelo perfil de onde saíram as calúnias e diz que computadores do órgão e de outros entes públicos foram empregados na operação. E a estatal nem se dignou a interpelar Benedito.
O que isso quer dizer? Já não temos mais um partido a serviço do país, mas um país a serviço de um partido.