Teófilo Otoni precisa se afastar do destino desinteligente que suportou até aqui. É urgente que deixemos de ser a cidade do aplauso burro, e assumamos, depressa, a condição de centro de cidadania plena. E, por favor, não me imaginem propondo uma volta aos ideologismos mofados, próprios da velha esquerda que, ao chegar ao poder, lambuza-se sem saber o que fazer.
Gostemos ou não, o fato é que Daniel Sucupira venceu as eleições. E, portanto, é recomendável que partamos desse ponto. Por isso, celebremos a escolha que a cidade fez. E se o povo votou, é legítima. Entretanto, isso não dá à “petezada” descolorida e aos puxa-sacos que alcançaram os seus carguinhos no Governo o direito de disseminar, como têm feito, a ideia troncha de que apenas o charme do atual prefeito e os seus modos populistas de se relacionar sejam capazes de resolver o problema de Teófilo Otoni. Não são.
Pelo que percebo, entre tantas dificuldades, aquela que mais conspira contra o Governo de Daniel Sucupira é que ele não tem projeto. Se não é completamente oco (e não é), mostra-se frequentado pela tendência aos experimentalismos de última hora, a exemplo de quem chega ao trabalho e não sabe ainda por onde começar. Essa gestão tem sido, até aqui, a soma da arrogância dos bajuladores de Daniel com a presunção mais aguda de uma suposta genialidade do prefeito. Com essa esquizofrenia é que se pretende convencer o contribuinte de que tudo se resolverá, e que, pela via do “deixa que eu chuto” é que Teófilo Otoni sairá do buraco. Não se iludam: não sairá.
A administração Sucupira, se não é covarde, é extraordinariamente conservadora, quase passadista. As escolhas do gestor mostram que ele e sua equipe não têm percepção de como combinar promoção urbana à dimensão social. Este Governo não se definiu modernoso, não assume os ranços de doutrinário e não decidiu se “morde nos pobres e assopra nos ricos”. Ou vice-versa. Por isso, dá voltas em torno de si e repete fórmulas antigas, frustradas, muitas delas aprendidas dos folhetins que Maria José ainda celebrava em cima de um velho caminhão na João XXIII, há décadas e décadas. Ou seja, alguma coisa com cara de novo, mas de espírito envelhecido. E o pior: está claro que essa administração espera apenas que a luz do cinema se apague para beijar a mocinha feia que representa os interesses daqueles que caminharam junto à sua candidatura. Portanto, sofre de uma forte crise de conceito, e tem recaídas de infidelidade.
“Essa administração espera apenas que a luz do cinema se apague para beijar a mocinha feia, que representa os interesses daqueles que caminharam junto à sua candidatura”.
O governo de Daniel não sabe se reaviva os petistas mofados da Casa dos Movimentos Populares, se contempla os ideólogos “sem ideologia” que se aproximaram da sua candidatura, e que se diga, por empregos e facilidades, ou se estende a mão às baratas que sobrevivem do lixo invisível que a cidade produz. Essas baratas, adaptáveis que são, e desafetas de qualquer compromisso republicano, emergem dos esgotos da corrupção e do ganho fácil com cara de “gente boa”, transitando de um governo para outro sem qualquer constrangimento. E essas baratas, acreditem, querem, se Daniel permitir, frequentar os espaços da Prefeitura, já que sobem, confortavelmente, as escadas da Câmara de Vereadores, onde, aliás, quase tudo pode.
Daniel me parece um cara bom. (Talvez nem tão bom assim). Mas isso não basta. Eleito, está se vergando aos corvos que replicam a voz dos endinheirados, plutocratas, cleptocratas e anticidadãos de Teófilo Otoni apenas para não desagradar os “supostos” donos da cidade. O prefeito imagina que pode beijar Deus e afagar o demônio no espaço de um único gesto. Por isso, não toca nos fios do transporte público municipal, não enfrenta a máfia dos táxis, nem sequer bate de frente com o estranho sindicato dos servidores municipais que o apoiou e que, agora, apressa-se a lhe apresentar a fatura anticidadã. Assim, se mantiver essa toada, o petista fará só um governozinho. Talvez um governo certinho, de bons modos, mas que, por não ter um “coração valente”, será capaz de transformar absolutamente nada, a exemplo do que fez a razoável Maria José.
Afinal, cadê a transparência tão propalada? Cadê a coragem de instaurar a Controladoria para pegar gente que extraviou o dinheiro da cidade? Cadê a abertura das contas (que não fecham) dos governos passados? Cadê a luta contra a Vale do Mucuri, em favor do usuário espoliado? Onde ficou a anunciada preferência pelos mais pobres? Em que lugar se perdeu a intenção de desvencilhar-se dos puxa-sacos e contratar mão de obra tecnicista, meritocrática? E a reversão das prioridades de um orçamento que dá pão aos ricos e migalhas aos pobres?
Depois que esse mandato passar, não tenho dúvidas, Teófilo Otoni continuará sendo a mesmíssima. Terá tido um governo sem cara, uma Câmara bufona (como sempre) e os deputados mais tristes (Fabinho, Neilando e Ademir) que a história do mundo pôde ter. E não terá emprego, e não terá desenvolvimento, e não terá saúde, e não terá perspectiva. O tal Governo dos pobres, o de Daniel Sucupira, em que os pobres votaram, será o Governo dos ricos em que os ricos não votaram.
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