— Por David Ribeiro Jr. —
Até que ponto chegamos?!
Durante a 2ª sessão da 9ª Reunião Ordinária da Câmara Municipal de Teófilo Otoni, na terça-feira (08/10), chamou a minha atenção uma determinada situação que, para uns, é apenas interessante. Mas, para outros, entre os quais me incluo, muito preocupante.
A que me refiro?
Por volta das 20h40min, conforme demonstra o relógio que aparece no canto superior direito do vídeo anexado ao final deste texto, o presidente da Casa, vereador Filipe Costa (PSD) comentou que um determinado servidor municipal comissionado (que exerce cargo por indicação, sem concurso) e que, para o propósito deste texto, não precisa ser identificado, o teria parado, abordado e dito, segundo as palavras do vereador, o seguinte:
“Pôxa, Filipe. O (bairro) Bela Vista está daquele jeito por sua culpa. Porque se você estivesse ao lado de Daniel, o Bela Vista estava um brinco; mas, como você está contra o prefeito, o bairro está jogado”.
Eu, enquanto produtor de conteúdo que sou, não vou entrar no mérito da questão do que foi dito pelo funcionário público enquanto fala avulsa. Pelo menos não neste texto. O meu propósito aqui hoje é outro.
Continuemos!
Diante do que foi dito pelo presidente da Casa, Filipe Costa, o vereador Marcinho da Serraria (PTC), que é líder do bloco governista na Câmara, fez questão de desfazer a fala do funcionário que teria dito originalmente a frase. Marcinho, enfaticamente, disse que, se o sujeito disse isso, está equivocado em indagar o vereador Filipe no meio da rua, e mais ainda por falar uma situação dessa. Segundo Marcinho, alguns dos redutos onde o vereador Filipe Costa teria passado pedindo votos são lugares onde há realizações importantes do prefeito. E ele citou o caso da Rua Suécia, no Alto do Felicidade, que está asfaltada; a passarela da Vila Betel, construída; o Rio Santo Antônio, que será desassoreado; e a Rua Marieta, no Bairro Boiadeiro, que foi asfaltada; além de realizações importantes em várias outras comunidades cidade afora.
Quero deixar claro, para quem talvez ainda não tenha entendido, que o meu propósito com este texto não é elogiar nem criticar o vereador Filipe Costa; também não é elogiar ou criticar o vereador Marcinho da Serraria; muito menos elogiar ou criticar o prefeito Daniel Sucupira, de quem falaremos depois. Por ora, vamos nos ater à questão dos vereadores. Ambos, naquele momento, cumpriam com o seu papel parlamentar e institucional. Filipe se sentiu injustiçado com a fala da pessoa que o abordou… qualquer um de nós em seu lugar sentiria o mesmo. Por sua vez, coube a Marcinho desfazer o suposto mal-entendido e mostrar que, se o prefeito deixasse de atender essa ou aquela comunidade por causa do vereador que ali é majoritário, tais obras e realizações citadas por ele não teriam sido empreendidas. Ninguém pode negar a coerência do argumento de Marcinho. Sua fala é absolutamente plausível.
Como eu disse, ambos os vereadores estavam, naquele momento, cumprindo o seu papel.
O que me preocupa, e que me fez escrever este texto, é a motivação para a fala do servidor que teria abordado Filipe Costa. Eu imagino que a turma que não gosta de Daniel Sucupira esteja, neste momento dizendo algo mais ou menos assim: “onde há fumaça, há fogo. Se o cara falou, é porque ele ouviu isso em algum lugar”. Mas depois de mais de vinte e cinco anos acompanhando o cotidiano da política de Teófilo Otoni, se há algo que aprendi é que nem sempre onde há fumaça há fogo. Às vezes a fumaça é advinda da dificílima tentativa de acender uma fogueira ou uma churrasqueira. É muito mais difícil do que parece. A fumaça começa logo, e incomoda pra caramba. O fogo… demora vir, e isso quando vem.
Por outro lado, a turma que enaltece o prefeito e sua Administração, imagino que, nesta hora, se divida em dois blocos. O primeiro é o dos sem noção, aqueles idiotas que concordam com o teor da suposta fala e dizem até que Daniel tem que boicotar mesmo o bairro de vereador que é de oposição — como se o prefeito tivesse sido eleito para governar apenas para quem votou nele, ou para quem agora diz votar. O segundo bloco que defende o prefeito, esse com mais juízo e pé no chão, admite que, se o servidor disse isso, errou e errou feio; que o tal servidor não tem procuração do prefeito para fazer esse tipo de comentário, e, convenhamos, não tem mesmo; mas por sorte Marcinho estava lá para desfazer quaisquer mal-entendidos que tenham havido.
Se ninguém está errado, onde você quer chegar, David?
Pois, muito bem! A fala do servidor que abordou Filipe Costa me preocupa porque ela vem ao encontro de uma situação que mencionei no meu editorial publicado no dia 26 de setembro, e que intitulei como “Estimular o empreendedorismo pode ser bom para o prefeito de Teófilo Otoni”. Se você não leu o texto, sugiro que o faça clicando aqui.
O que eu disse naquele outro texto muito mais como um exercício de dedução e de brainstorm agora se revela uma realidade inequívoca. Teófilo Otoni se tornou uma terra complicada, uma terra atrasada e excessivamente dependente de empregos públicos. Por empregos públicos, por mais baixa que seja a remuneração, as pessoas têm se revelado capazes de agredir, de achincalhar e de assassinar reputações daqueles de quem não gostam apenas para demonstrar ao seu líder que merecem uma vaga, ou uma boquinha na corte do rei. E, detalhe: quando estão na oposição, agem da mesma maneira para quem está no poder porque alimentam a esperança de substituí-los em breve. E, enquanto isso, ao invés de trabalharem, passam os seus dias cornetando e acreditando que estão fazendo política. É sério… Acredite você, ou não, eles pensam mesmo que estão agindo como estadistas.
Isso é preocupante porque explicita o quão longe a nossa gente está do empreendedorismo, o mesmo espírito empreendedor que todos os dias tem se mostrado a verdadeira tábua de salvação de comunidades atrasadas e vulneráveis mundo afora. Que o Poder Público deve apoiar as iniciativas e projetos que estimulam o empreendedorismo? É claro que sim! Afinal, esses mesmos projetos e empreendimentos, quando estiverem sendo realizados, resultarão em aumento na arrecadação tributária do próprio Poder Público. Mas, para isso, é preciso estimular o empreendedorismo.
Na Feira da Agricultura Familiar (AGRIVALES), ocorrida ente os dias 10 e 12 de outubro, foi estimulada a prática da Agricultura Familiar. O presidente do Sindcomércio Teófilo Otoni, Iêsser Lauar, em sua fala, explicou que se conseguirmos dar estímulos para que as famílias dos praticantes da agricultura familiar em nossa região otimizem as suas atividades, podemos aumentar em pelo menos R$ 1.000,00 (um mil reais), em média, a renda mensal dessas famílias, o que, de forma acumulada, retornará em milhões de reais por mês para a economia local.
É disso que precisamos: estimular o aumento da renda das nossas famílias sem que elas tenham que, necessariamente, depender de um emprego público. Até porque não há emprego público para tanta gente. A consequência desta nossa cultura de se pendurar no Poder Público é uma letargia, uma inércia e uma paradeira que começa a trazer resultados extremamente negativos para todas as áreas da nossa economia local, principalmente o comércio, que é o maior empregador.
Em 1994, quando o Plano Real foi colocado em prática, e deu estabilidade à economia brasileira, muito se sonhou com o progresso e com o desenvolvimento socioeconômico de Teófilo Otoni. Na época se falava em inaugurar uma tal de ZPE que, pelo visto, já foi mesmo pro beleléu. Mas fica um questionamento: uma vez que a nossa ZPE não saiu, não vingou, vamos cruzar os braços e deixar a cidade acabar?
Começo a entender a motivação de alguns dos nossos irmãos teófilo-otonenses que, depois de esperarem 25 anos para que o espetáculo do crescimento chegasse por aqui, começaram a arrumar as malas e partir para outras bandas.
O meu medo é chegarmos numa condição em que tenhamos de dizer aquela fatídica frase:
“O último que sair, apague a luz!”
Quem viver, verá!