O Brasil passou nos últimos anos de país da alegria e da receptividade para o país da violência e da criminalidade. Parte desse fenômeno é latente na sociedade brasileira desde a sua mais remota existência. Esses comportamentos estão mais evidentes, porque as suas vítimas não têm aceitado passivamente essas agressões até então consideradas como normais.
Isso explica o aumento no registro de violência como a doméstica, de raça, de religião, sexual e a política, que, volto a dizer, sempre existiram, e, até então menosprezadas. A violência perpetrada por qualquer forma afeta tanto às suas vítimas quanto à sociedade. Para o filósofo francês Jean-Paul Sartre, “a violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”. A violência física é a que mais chama a atenção, pelos seus efeitos exteriores, sendo esta, na maioria das vezes, fruto de uma violência psicológica, social ou econômica anteriores.
A violência e a criminalidade embora pareçam sinônimas, não o são, e andam de mãos dadas contra o respeito, à dignidade e à cidadania. Uma pessoa pode praticar uma violência sem praticar um crime, como pode praticar um crime sem ser violento. Em ambos os casos age em prejuízo de uma ou mais pessoas.
A intolerância, para com os que pensam diferente, é uma forma de violência marcante de determinados grupos sociais com o objetivo de fidelizar os seus adeptos e fazer discípulos acríticos.
Não se engane, o discurso é uma arma poderosíssima utilizada por sutis e requintados criminosos, que provocam as maiores atrocidades e, dependendo de seus objetivos, envenenam as massas, causando prejuízos de toda sorte, podendo culminar em grandes atos de violência física e em diversos outros crimes.
Na era do império romano, na Grécia antiga, nos discursos fundamentalistas passados e presentes, nos discursos antifundamentalistas, nos discursos de Hitler, e tantos outros discursos ideológicos nota-se como pano de fundo a dominação social. Através de um discurso pessoas comuns são conduzidas à pratica de atrocidade por elas impensadas e até fazerem justiça com as próprias mãos.
Penso que objetivando evitar a manipulação dos cristãos para a prática da violência, que o escritor bíblico no livro de Colossenses 2.8 disse: “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas”.
Em suma: não praticar violência ou crimes exige muito esforço de todos porque esta é uma tendência inata, assim, além de um caráter firme e sabedoria, o extremo cuidado com aquilo que se lê, vê e convive é crucial para não se deixar contagiar pelo mal, principalmente nessa era digital, da livre informação e contrainformação. Eis o porquê da célebre frase do filósofo inglês Thomas Hobbes: “ O homem é o lobo do homem”.
Márcio Barbosa dos Reis
Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni e auditor fiscal da Receita Estadual
E-mail: marciobareis@outlook.com
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